Entrevista com Meraki

Em 2020 nasceu um novo grupo de música tradicional com artistas de Évora que já contam com uma trajetória anterior nos palcos portugueses. Devido à pandemia Covid-19 só conseguiram estrear publicamente no mês de maio de 2021 na sede da associação Pé de Xumbo. Depois desse concerto ficámos tão entusiasmados que pedimos à Patrícia Camelo para fazer uma entrevista, que dedicaram à Teartres:

-MZ&FM: Podes explicar o sentido de terem chamado ao grupo «Meraki«? Qual o significado que este nome adquire para ti neste projeto?

PC: Meraki é uma palavra de origem grega que traduzida para português significa: fazer algo com alma, criatividade ou amor. Colocar parte de si em algo que se está a fazer. Este nome é o reflexo da dinâmica que temos dentro, enquanto grupo de amigos que adora fazer o que faz.

Músicos de Meraki, por Manuel Galante

MZ&FM: Já vimos alguns destes integrantes na banda «SevenDixie«, e também no projeto de música barroca tocada em estilo de swing («SevenDixie apresenta BACH to Dixie«), podes contar-nos como escolheste os integrantes deste novo grupo?

PC: Meraki deriva de outro grupo que nos era muito querido, mas já extinto, a Roda de Choro de Évora. Depois, eu, o Flávio Bolieiro, o Sérgio Galante e o Vicente Limafortes queríamos continuar a tocar juntos. Decidimos combinar ensaios em que a malta levava temas que gostava de tocar, quase em modo de jam session. A partir daí, naturalmente fomos definindo um caminho novo para nós, e convidámos a Margarida Martins e o Mário Lopes.

-MZ&FM: Podes explicar alguns dos motivos que te levaram a criar este grupo?


PC:
Basicamente queríamos poder tocar mais tipos de música, tudo num grupo só. Todos nós temos várias bandas, mas em nenhuma delas podíamos tocar este repertório, que não tinha propriamente um espaço ou grupo específico para ser executado.

Ibrahim Maalouf, uma inspiração essencial para o grupo Meraki, seguindo a entrevistada Patrícia Camelo.

-MZ&FM: O nascimento deste projeto foi influenciado por um filme sobre uma feira de gado tradicional em França, podes falar desta inspiração?

PC: Na realidade, a inspiração foi a criação artística para a candidatura ao Artes à Rua . O nascimento deste projeto não foi propriamente influenciado pelo filme, mas pela sua banda sonora.

Uma das influências musicais deste grupo é o trompetista Ibrahim Maalouf , responsável pela composição da banda sonora do filme “La Vache”. A inspiração para o videoclip -que lançámos como promoção deste concerto (o espetáculo Orbis Terrarum Radices)- surgiu numa viagem do Algarve para Évora; foi depois de um longo dia de aulas, quando eu e o Flávio íamos a ouvir a banda sonora no caminho. Daí, as ideias seguiram-se umas às outras: convidar o Quinteto, fazer o videoclip, e incluir a ideia das vaquinhas. Para ser diferente do que estamos habituados a ver como teaser de um espetáculo musical, decidimos contratar o André Pereira –Ondré Studio– para realizar e produzir o guião que nós já tínhamos desenvolvido.

-MZ&FM: O que gostarias de transmitir através deste novo projeto?

PC: Que as raízes musicais e culturais entre povos estão mais interligadas do que normalmente se pensa. Que é importante procurar a unidade do ser, relacionando-a com a arte e as raízes da cultura.

-MZ&FM: O grupo Meraki conta com um repertório variado de músicas do mundo e algumas com raízes europeias, que vão desde a Idade Média até ao século XX. Podes explicar o motivo destas escolhas?

PC: Simplesmente porque é música que gostamos de tocar e que as pessoas podem disfrutar, dançando, ou simplesmente ouvindo. Na grande maioria dos casos as pessoas não associam -hoje em dia- a música folk a uma dança específica de cada tema. Este repertório ajuda a perceber que as raízes culturais estão interligadas e que inclusive dentro do mesmo país e de uma cultura própria existem muitas ramificações que derivam de uma raíz comum.

-MZ&FM: Como despedida queremos saber se têm mais concertos agendados e quando vos poderemos ver ao vivo.

PC: O nosso próximo concerto terá lugar no dia 22 de maio pelas 19h na praça do templo romano, para o Festival Artes à Rua em Évora. Apareçam!

Foto de Meraki no concerto do 22 de maio junto ao templo romano, Évora. Fonte: Facebook do grupo Meraki

BREVE TRAJETÓRIA DOS MÚSICOS DE MERAKI

Patrícia Camelo – Clarinetista

Patrícia Pereira Camelo iniciou os seus estudos musicais aos 12 anos na Sociedade Filarmónica Quiaense, tendo como primeiro professor de instrumento Paulo Loureiro. Com essa idade, ingressou no Conservatório de Música David de Sousa na Classe do professor César Ramos. Obteve o 2º Prémio nos II e III Concurso Internacional de Clarinete Baixo “Júlian Menendez”, em Ávila (Espanha, 2015 e 2018).

Licenciou-se em 2013 em clarinete pela Universidade de Évora, pertencendo à classe do professor Etienne Lamaison e 2016 concluiu o Mestrado em Ensino da Música (Universidade de Évora) na classe do professor Luís Gomes. Lecionou clarinete e formação musical na Sociedade Filarmónica Quiaense, onde dirigiu também o Coro Litúrgico. Foi professora de clarinete no Conservatório Regional do Alto Alentejo (Reguengos de Monsaraz) de 2014 a 2019.  É membro fundador dos grupos SevenDixie, Quarteto de Clarinetes Ma Non Troppo, Roda de Choro de Évora e Meraki World Music, bem como executante de clarinete baixo na Orquestra Marquês de Pombal. Atualmente leciona clarinete no Conservatório Regional do Algarve Maria Campina, Orquestra Juvenil de Sopros de Évora e Sociedade Filarmónica Municipal Redondense.


Flávio Bolieiro – Acordeão

Entrou no mundo da música aos 12 anos na Sociedade Filarmónica Cartaxense. Em 2008 ingressou no Conservatório de Música de Santarém no Curso Supletivo de acordeão com o Professor Vítor Mira, e no ano letivo de 2015/2016 termina o mesmo. Em março 2021 termina a licenciatura em acordeão, na Universidade de Évora. É professor de acordeão no Conservatório de Música de Santarém, no Conservatório de Música de Loulé, na Associação Pé de Xumbo e na escola de música da Sociedade Filarmónica Alpiarcense. Leciona ainda aulas particulares de acordeão, iniciação e Formação Musical. Integra atualmente 7 espetáculos diversificados: Vórtice Project, Duo Flávio Bolieiro & João Correia, Trio Tradicional, As Nossas Danças – “REVIRAVOLTAS”, MOA- Miguel Ouro Anima e por fim, o mais recente, Meraki, grupo que retrata uma viagem pelas raízes, vivências e dinâmicas tradicionais do nosso país e do mundo, pautada pela diversidade e partilha transversal da música sem fronteiras.


Mário Lopes – Percussão

Natural de Évora, iniciou os seus estudos na Banda Filarmónica 24 de junho de S. Miguel de Machede, estudando depois no conservatório Regional de Évora. É licenciado em bateria Jazz pela Universidade de Évora. Leciona bateria na Musicentro , Fundação Salesianos de Évora e desempenha funções de maestro na Banda Filarmónica 24 de junho de S. Miguel de Machede. É membro fundador das bandas Sevendixie, Meraki e Orquestra de jazz de Évora.

Sérgio Galante – Cordofones

Natural de Reguengos de Monsaraz, começou a estudar guitarra aos 13 anos na Zalisom. Mais tarde ingressou na Escola de Jazz Luís Villasboas. Frequenta a Licenciatura em Guitarra Jazz na Universidade de Évora. Atualmente é professor de guitarra no Estúdio 15, em Montemor-o-novo. Faz parte de projetos como SevenDixie, Meraki (membro fundador), Sarja e Trés Sangres.

Vicente Limafortes – Contrabaixo

Natural de Cabo Verde, frequentou o Conservatório Regional de Évora. Contrabaixista na Orquestra de Cordas de Professores e Alunos do Conservatório. É membro fundador de Bossamorna, Travessias e Meraki.

Ana Margarida Martins – Piano

Natural de Lisboa, começou a tocar piano aos 10 anos com Natacha Sibalic, frequentando simultaneamente a Academia de Música de Almada. Aos 16 anos ingressou na Escola Profissional de Música da Metropolitana e, atualmente frequenta a Licenciatura em Piano na Universidade de Évora. Membro de Meraki, leciona atualmente no Musibéria.

O grupo Meraki, por Hugo Santos


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SUGESTÃO DE CITA DESTA ENTREVISTA

María Zozaya e Fernando Mendes » Entrevista com Meraki» TearTres, Teatro y Artes Contemporáneas, ISSN 2444-7374, 24-V-2021, https://teartres.wordpress.com/2021/05/24/entrevista-com-meraki/

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